Dificuldade para se tornar jogador profissional
- Victoria Vianna
- 28 de dez. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 8 de jan. de 2021
O futebol é movido pela paixão que se inicia muitas vezes, na infância. A maior parte das crianças que veem seu time jogar na televisão, começam a se inspirar no ídolo do clube e sonham em seguir a carreira desses jogadores. No improviso com traves montadas por chinelos no meio da rua, esses garotos jogam todos os dias pensando que no futuro, conseguirão viver a carreira que sempre desejaram.
O sonho aumenta a cada ano, entretanto, esses meninos não sabem os desafios que irão lhes surgir no caminho. São anos de testes, dificuldades financeiras, frustrações, entre várias outras coisas que terão que enfrentar pro resto da vida.
Muitas vezes, começam em clubes pequenos, de bairro. Esses jovens se submetem a todos os tipos de situações, pensando em até desistir do que sempre desejou devido à falta de estrutura oferecida pelo clube e a de dinheiro para seguir em busca de uma oportunidade.
Além das dificuldades que os jogadores enfrentam para subir ao profissional, existem também os desafios de passar para as peneiras. São muitos candidatos concorrendo à vagas limitadas e quando passam, sentem um medo constante de uma possível dispensa por parte do clube que joga.
O ápice para aqueles que conseguem se estabilizar na base é a Copa São Paulo de Futebol Junior, a famosa "A Vitrine do Futebol", torneio no qual uma simples característica combinada ao esforço e dedicação é essencial para se destacar entre centenas de outras promessas.
Muitos sonhos vão por água abaixo quando empresários criam falsas esperanças de um futuro na carreira. São pessoas de má índole que se aproveitam do dinheiro que os pais trabalham muito para conseguir com o objetivo de inserir seus filhos no mundo da bola.
De fato, se tornar um jogador profissional é uma das maiores dificuldades para aqueles que desejam essa profissão, pois é um ambiente cercado de mentiras e ilusões e prosseguir sem pensarem em desistir é muito difícil de acontecer. Contudo, a vontade e o empenho são tão grandes que os motivam cada vez mais.
Clube Atlético Taboão da Serra (CATS)

No dia 24 de abril de 2018, o Clube Atlético Taboão da Serra (CATS) começou com as seletivas para as categorias de base. Jovens que nasceram entre os anos 1999 e 2001, terão a oportunidade de participar os torneios Copa São Paulo de Futebol Junior e a Copa Paulista.
Antônio Carlos Costa Gonçalves, conhecido como Tonhão, é ex-jogador do Palmeiras que conquistou títulos importantes, como o Campeonato Paulista de 1993. Hoje, faz parte da comissão técnica do CATS. Tonhão contou como acontecem essas seleções de categorias de base, disse que foi criado em 2014, com a intenção dos garotos da região do Taboão praticarem de 3 a 5 testes, para dar oportunidade ao jovem e encontrar um jogador de alto nível para defender o clube.
Aproximadamente 1500 jovens estavam na seletiva, porém muitas vezes, clubes pequenos não conseguem bancar todos esses futuros jogadores. Por isso, pouquíssimos conseguem passar pela peneira do time.
Ao passar pela peneira, o clube oferece alimentação, a casa de alojamento— existem critérios para utilizar: precisa ser titular e são usados pra quem mora mais longe —, vestiário, roupas e tratamento com 10 profissionais bem qualificados para ajudar o jogador. Todos esses benefícios são conquistados com parcerias de comércios, por ser considerado um time pequeno.
Com essas condições oferecidas e um bom futebol, alguns garotos se destacam no meio do time, fazendo com que seus sonhos cheguem cada vez mais perto. O clube, olhando para o lado financeiro, melhora muito, fazendo com que o dinheiro retorne para o próprio jogador. Tonhão explica que é bom, sim, economicamente porém, o futuro do jogador para o técnico é o mais importante. "Para nós, da comissão, a maior satisfação é quando a gente vê um jogador que consegue ser um atleta de alto nível, um atleta de um clube maior, ou até de um clube do exterior."
Mas, como lidar com as frustrações de quem não consegue passar para o profissional? Essa questão é uma realidade, principalmente em clubes menores. "A gente está mexendo com o sonho das crianças. É uma hora difícil, mas temos que jogar com a realidade", explica Tonhão. Muitas vezes, um jogador não tem um momento bom em um clube, não vê nele aquele rendimento que foi apresentado nos testes, porém o jovem acredita no potencial que tem. Ao ser dispensado, se sente injustiçado por não terem prolongado sua passagem no time. "Às vezes, nós, da comissão podemos errar também, nós não somos perfeitos. Às vezes o jogador não passa aqui, e de repente ele vai no Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos e passa; e a gente fica com aquela frustração de não ter enxergado o melhor no jogador", completa.

Além do ex-zagueiro, o especialista em futebol Adriano Tadeu Medeiros, contou que sua maior preocupação não é apenas com os jogadores que não sobem ao profissional mas também, com garotos de 11 a 14 anos que são dispensados antes de conseguirem uma vaga na base. Disse que a melhor forma de lidar com essa situação seria os clubes com mais transparência com seus atletas, que explicassem a realidade de uma forma clara, para que todos entendessem que a carreira não acaba quando for dispensado por um clube, que esse é sempre um motivo para que eles continuem perseverando.
Lei Pelé e falsos empresários
Até o ano de 1998, os clubes eram responsáveis pelo passe dos jogadores no momento da venda. Todo o valor não era determinado por empresários e sim por quanto o time acreditava que era necessário. A Lei Pelé foi uma revolução no mundo do futebol, trazendo liberdade aos jogadores. Ao decorrer dos anos, a Lei criou divergências de opiniões, pois, os clubes tornaram-se vítimas de empresários.

O Presidente do CATS, Anderson Nóbrega apresentou sua opinião sobre a Lei: "A intenção dela foi correta (...), mas a forma que interpretaram a Lei, ela só valorizou os empresários e os próprios jogadores, que é o certo, mas tinha que ter um adendo de segurança para os times pequenos." e completou: "O CATS por exemplo, não consegue fazer contratos longos com jogadores de 16 anos, como os clubes grandes fazem. Então você revela jogador, os times grandes vêm aqui e roubam. Eles não têm nem a delicadeza de pedir uma parceria pra que no futuro o dinheiro possa reverter pro clube, isso seria interessante".
Outra questão que preocupa os clubes brasileiros hoje em dia são os falsos empresários. Tonhão disse que a maioria se aproveita dos jovens que sonham em se tornar jogadores. "Há vários pais que vendem carro, fazem dívidas em banco, pegam dinheiro emprestado, pra poder investir no sonho de seu filho, que as vezes não é realidade, eles se enganam." Na sua opinião, apenas com leis que punam esses maus profissionais, o Brasil se livrará desse aproveitadores.
De ex-jogador a técnico

Por fim, Tonhão explicou quais conteúdos ele ensina aos garotos da base. A função dele, primeiramente, é procurar uma posição que se encaixe melhor a cada jogador, depois, ensinam vários fundamentos físicos, técnicos e táticos; para que no futuro eles possam se tornar profissionais de qualidade e atletas de bom nível.
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